RELAÇÃO MESTRE X DISCÍPULO
SISTEMA HIERARQUIZADO DE GRADUAÇÃO DE UM FAIXA PRETA EM KARATÊ-DO
SHOTOKAN
A relação Mestre / Discípulo é
bela, pautada pela liberdade e pelo amor, ao mesmo tempo em que pela
hierarquia, disciplina e extrema lealdade. Existem vários tipos de discípulos e
diversas fases no discipulado de cada um. É oportuno lembrar que discípulo não
é o aluno comum e sim aquele que optou voluntariamente pela via do discipulado
quando passou a ter o Grau de CHÊLA, que significa discípulo. Convém recordar
que é o discípulo que escolhe o Mestre, depois de se sentir identificado com a
proposta e assumir o compromisso de seguir as orientações daquele que
orgulhosamente chama de "meu Mestre”. Fora isso, todos os demais são
considerados apenas alunos. Se você já escolheu o seu Mestre, descubra que tipo
de discípulo é.
DISCÍPULO QUE NÃO ASSUMIU O MESTRE
Este é o tipo de discípulo que
desobedece às recomendações do Mestre, ministra uma interpretação do
ensinamento de autenticidade duvidosa, incompleta, truncada e distorcida. É
anarquista ou festivo na maneira como trata o Karatê-Do. Não é profissional.
Quando apanhado, pede desculpas, diz que o fato não se repetirá, mas continua
"esquecendo-se", "enganando-se" e sem entender". Pela
frente, chama "Querido Mestre", sorri e paparica.
Por trás, faz o que quer, não
cumpre, mistura, distorce; pelas costas do Mestre diz que não concorda com ele
nisto ou naquilo. Em geral, não forma instrutores. Quando os forma são
indisciplinados. Tem medo de concorrência dos seus próprios alunos e dos demais
companheiros. Ao ler estas linhas, vai pensar que não se enquadra nesta
descrição.
O FALSO DISCÍPULO
Este é um caso mais simples. Ele
queria o certificado de instrutor para trabalhar e teve que aceitar as normas.
Leu todos os textos, discordou de tudo, considerou tudo muito radical, um
disparate, mas mentiu declarando que compreendia e que aceitava todas as
imposições, só para receber o certificado. A maioria dos que constituem este
tipo de discípulo é proveniente de outros ramos de Karatê-Do, de ideologias
espiritualistas ou de seitas. É agressivo, mal-educado, irracional.
O DISCÍPULO QUE MATA O MESTRE
Nas Artes Marciais do Oriente há
o provérbio que diz: O melhor discípulo é o que vai matar o Mestre.
"Matar", na maior parte das vezes, é simbólico, no sentido de
enfrentar, opor-se, medir forças, tentar vencer o preceptor. Tal procedimento
destrutivo explica-se. É que, muitas vezes, o melhor pupilo, o mais esforçado,
um dia, para mostrar ao seu Mestre que aprendeu tudo muito bem, lamentavelmente
quer provar que é melhor que ele. Então, desafia-o. Tudo é uma questão de ego.
Felizmente, não é sempre, e não é forçosamente o melhor discípulo que o vai
afrontar.
O DISCÍPULO QUE NÃO É NADA
Também há o que tem um olhar meloso,
que faz declarações de fidelidade eterna, que diz que um dia vai começar a
lecionar, que vai dedicar-se com seriedade à nossa missão, mas... Os anos
passam e esse discípulo não faz nada. Tudo para ele é difícil. Todos os seus
colegas já realizaram algum coisa importante, mas o discípulo que não é nada
passa os anos suspirando prometendo que um dia, quando conseguir, fará alguma
coisa. E não faz.
O DISCÍPULO LEAL AO MESTRE
Por outro lado, o discípulo leal
ao Mestre é fiel, independentemente da mensagem. Não está com o Mestre por
concordar com o que ele diz e sim concorda com o que o Mestre diz porque está
com ele! Se o Mestre muda, o discípulo muda também. Se o Mestre deixar o
Karatê-Do e começar a ensinar ping-pong, o discípulo leal ao Mestre vai também,
por amor, por confiança, por prazer de permanecer ao seu lado.
O DISCÍPULO IDEAL
Existe sim! E, por incrível que
pareça, é mesmo a maioria. Alguns dos exemplos anteriores é que são as
exceções. O discípulo ideal é simpático, gosta de colaborar, compreende as
razões e tem satisfação em cumprir todas as determinações. Dá sugestões, sem
críticas nem cobranças.
Quer servir e ajudar. Por outro
lado, não aceita críticas sem se defender, e até mesmo as pede. É leal,
disciplinado, amoroso e ético. Pela frente trata o Mestre com carinho; por
trás, defende-o com lealdade. Ao ler esta descrição identifica-se, reconhece o
seu valor e fica feliz por saber que é valorizado pelo que é.